O Carpinteiro 

Um certo dia um velho chamou a atenção por duas coisas, uma ele estava sempre com um sorriso no rosto, outra ele fazia tudo de modo que parecia nada ser em seus olhos, certo dia  pus-me a perguntar seu segredo, ele nada disse demais, ele disse apenas que faz tudo para não fazer nada, foi meio engraçado até, fazer tudo para não fazer nada. Outra vez fui pergunta a ele o porque do sorriso, parecia que a vida não havia problemas nenhum, ele sorriu é disse, problemas??? acho que tenho, mas nem penso neles, assustei-me com tal pronuncia, não preocupar-se com problemas, é a mesma coisa que deixar pra lá tudo que existe, ele disse que não, ele apenas deixa o espaço vazio para as soluções, problemas enchem demais a cabeça, fica difícil encontrar caminhos onde existem apenas pedras, ainda mais aquelas pedras colocadas por nós mesmos. Aquele mesmo dia peguei-me pensando em suas palavras, nada mais fazia sentido, é como um Matrix social onde sou colocado para ser fraco sempre, pedras, pedras, sim aquelas impossíveis de serem tiradas ele simplesmente as deixa para trás,  com a mente longe ele consegue remove-la com o tempo ao seu lado, seria uma forma de usar o tempo a seu favor? Nunca tinha pensado no caso. No dia seguinte fui a sua procura lá estava ele a aconselhar uma jovem moça que achava-se infeliz, pois seus casos sempre acabavam em tragedia, nenhum homem queria corteja-la, ele olhou para ela, analisando seus gestos e sua posse, e disse que não havia nada de errado, apenas havia uma moça que tinha medo da sociedade, se tinha algo errado esse algo errado começava no pensamento que vai para o comportamento por ultimo vai para a sociedade como um espelho. Aquelas palavras me desabaram,  seria possível que todo esse ódio que o povo sente dos outros seria uma reflexão de si mesmo? será que quando nos afastamos da sociedade ela também afasta-se de nós ? nada mais somos que carne e ossos agora, que vagam por uma dimensão irreal que a nossos olhos é uma verdade imutável ? A garota sorriu como nunca antes e percebeu que nada estava acabado, existem problemas, mas também existem soluções, e essas soluções vinham a priori de si mesmo sempre. Porque tantas perguntas? Porque tanta tristeza? O velho dizia com um enorme sorriso, ele dizia : - Coloque em sua cabeça apenas o necessário, apenas aquilo que pode resolver e você será muito feliz. Após alguns dias, ele chamou-me e disse quer saber meu segredo? Fiquei abismado logo a principio, todavia pensava que seria uma pegadinha, ele olhou para meus  braços e entregou em minha mão duas madeiras, uma em bom estado e outra terrivelmente ruim, e me perguntou o que faria com elas, indubitavelmente eu escolhi a mais forte, e logo soltei a outra, ele deu um olhar de reprovação e desferiu a seguinte frase :

- Como pode ignorar as pequenas coisas ? Sabe-se você que tu es uma pequena parte do universo, ainda sim ele não o descarta como fizeste com esta madeira. Seja um Carpinteiro meu jovem, seja um arquiteto também, onde tudo tem sua finalidade em sua obra, não jogue fora a madeira mais fraca, ela pode ser útil para alguma coisa, não esqueça-se disso, nunca julgue alguém de inútil, pois todos tem sua função e sua habilidade nesse vasto mundo de visões e contemplações de realidade. Após esse dia nunca mais esqueci suas palavras, o velho mais sorridente que conheci ou irei conhecer nessa breve passagem que é a vida...

                                                                                                      

                                                                                                    O vendedor de Sonhos ( André Silva )